quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Não se incomode

Não se incomode quando eu disser que já sofri. Pois sofri por tempo demais. Mais tempo do que a sua capacidade de se incomodar. Portanto, não se incomode. E não se importe quando lhe disser as coisas que eu fiz quando sofri. Foram coisas horríveis. Mais terríveis do que a sua capacidade de se importar. É perda de tempo. Por favor, não me de atenção, não queira ouvir minha história. Por mais que eu queira te contar, ela é maior do que a sua capacidade de compreensão. Não me julgue. Minha própria condenação já basta. Portanto, não perca tempo tentando e querendo entender. Não tente. Não queira. Eu não quero. Se fosse uma opção, eu também não me importaria, ou sequer me incomodaria. Se eu pudesse, essa história nem seria a minha. Minha história teria uma pote de ouro no final do arco-íris. Um belo caminho com uma bela recompensa. Mas não se incomode. Você não entenderia. Tente não pensar nisso. Eu não penso. Por favor, não se importe. Não quero que se lembre disso quando se lembrar de mim. Quer ter uma lembrança? Lembre do pote de ouro. Se importe com ele. Mas não se incomode.

Que se dane

"Cheguei cedo demais", pensei. Faltava 1 hora para que eles saíssem do colégio e eu já estava no portão esperando. Claro, eu não iria ficar apenas sentada esperando que eles saíssem, e não tinha nenhum outro lugar que eu pudesse ir enquanto isso. Eu só tinha uma opção: o livro dentro da bolsa. Está aí um ponto positivo de ser leitora.
Certo, o livro não diminuiu minha ansiedade, uma vez que eu conferia a hora a cada 2 minutos e achava que o tempo passava cada vez mais lentamente. Que tortura é ter que esperar. Mas me segurei. Não tinha mais nada o que fazer. Tentei ler e não olhar a hora por um tempo.
Quando os últimos minutos de espera chegaram, eu já não conseguia mais ler. Desisti. Não tinha lugar na minha cabeça para outras coisas. Eu só pensava na droga do sinal que não tinha tocado ainda. "O que eles têm contra tocar o sinal 5 minutos antes da hora da saída?" Mas, finalmente, o sinal tocou.
Esperei, esperei, esperei... Muitas pessoas saíram. Um mar-de-gente. Mas não vi rostos conhecidos. Quando a angústia ameaçou tomar conta de mim, eu ouvi um grito. Mas não um grito qualquer. Era um grito familiar. Ela veio correndo e se jogou em cima de mim. Saudade.
Depois dela, outros vieram. Outros me abraçaram. Senti muita falta de todos. Mas um em especial, me fez quase morrer de saudade. Enquanto me abraçavam, todos sussurravam coisas no meu ouvido: o tanto que me amavam, o quanto sentiram a minha falta... Mas quando ele me abraçou, palavras não foram necessárias. Só de estar ali, abraçada com ele, e ele abraçado comigo. Aquilo já era o suficiente. Palavras certamente estragariam aquele momento. Embora tivessem outras dezenas de pessoas em volta, observando o nosso momento, o momento era só nosso. Dane-se as pessoas em volta. Dane-se os olhos atentos. Dane-se essa coisa toda. O que importava era apenas o cheiro dele e seus braços apertando forte a minha cintura. E o resto? Que se dane.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

- O que você fez com ele? o matou? O prendeu? Escondeu? Onde o deixou? Preso? Como? Com correntes ou cordas? Ele consegue respirar? Ele ainda vive? Ainda pode ressuscitar?
- Não sei o que fiz com ele.
- Mas acha que ele pode voltar?
- Penso que não.
- Eu sinto por isso.
- Eu também.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Ele abriu aquele sorriso que faz minhas pernas bambearem e se aproximou mais de mim, dando dois curtos passos. Agora, com os corpos quase colados, pôs uma mecha de cabelo imaginária atrás da minha orelha. Meu coração, já a essa hora, estava do lado de fora do peito, correndo e saltitando por aí. Ele tomou meu queixo entre o pelegar e o indicador e aproximou seu rosto do meu. Pensei, por um breve momento, que ele tinha confundido as coisas, assim como eu. Pensei, imaginei, sonhei que, para ele, tudo era muito mais do que uma mera amizade. Mas obtive uma resposta negativa quando seus lábios tomaram um rumo diferente dos meus, e depositaram um doce beijo em minha testa. Um ato carinhoso. Um ato que, por mais que não seja o que meu coração desejava em seu emocional, eu apreciava em minha razão.

sábado, 22 de novembro de 2014

Foi assim

E foi assim, de uma hora para outra, que o meu mundo desabou sob os meus pés e sobre minha cabeça. 5 simples palavras. 5 bombas. Meras letras foram o suficiente para começar a corroer uma amizade e minha sanidade.
Foi assim, de repente, que senti o chão ser puxado de baixo dos meus pés, como um simples tapete. Foi assim que minha âncora se desprendeu do solo, e me deixou cair. E ainda estou caindo.
E foi assim que minha âncora deixou de fazer seu tão importante papel, e deixou que minha sanidade fosse levada pelo vento, como uma insignificante folha de papel em branco.
Foi assim que acabou. Foi assim que começou. Foi assim que minha mente se perdeu, meus pensamentos se confundiram e minha vida virou de ponta-cabeça. E foi assim, com apenas cinco palavras, que você me fez voltar a insanidade. 

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

No dia de amanhã

No dia de amanhã, mais um ano se vai, mais um ano perdido no mar do infinito. Mais um ano de frieza, mais um ano de inutilidade, mais um ano sem beleza e sem futilidade. Mais um ano de perdas, mais um ano de ganhos.
No dia de amanhã, comemoro mais um tempo perdido, menos tempo a ser vivido. Menos tempo para sorrir, menos tempo para viver, menos tempo para alegria vir e para o melhor ter.
No dia de amanhã, tenho menos um dia de vida, menos um ano. Em um ano consegui muitos dias, em um dia vou perder um ano. Mais um ano que sofri com as ironias. Mais um ano que chorei, enquanto a vida ria.
No dia de amanhã, um ciclo morre e outro se inicia. Menos um ano, mais um ano. Menos um que vive, mais um para viver.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Meu bem, apenas de mim vem

Dura e arrogante
Fria e distante
Tudo é apenas um escudo
Uma proteção de tudo
Não querer estar com alguém
Não querer ir além
É apenas uma forma de saber
Que não voltarei a sofrer
Um dia chorei, me lamentei
Sofri ao sorrir
Não escolhi o melhor barco ao embarcar
A aparência só fez me enganar
Por isso, discordo:
Posso sim, estar só
Estar só e ser feliz
Não preciso de ninguém que me faça bem
Por que o meu bem
Apenas de mim vem

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

História

Ah, a história
Que graça teria se não tivesse um pouco de realidade e um pouco de fantasia
Um pouco de narrativa e um pouco de poesia
Histórias inventadas
Histórias fantasiadas
Histórias que tem um fundo de verdade
Baseadas na realidade
Contos de fadas que contam a verdade
E histórias de verdade que não contam a realidade

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Estava ocupado demais tentando parecer o cara perfeito, e não percebeu que estava se apaixonando.
Então, ele se foi. Da forma esperada, num momento inesperado, com as palavras que eu tanto temia ouvir.

Foi ele, aquele

Aquele que veio e curou minhas feridas, foi o que mais me machucou. Aquele que me tirou da solidão, foi quem me abandonou. Aquele que me ajudou a superar, foi quem mais me traumatizou. Aquele que me fez prometer que nunca o abandonaria, foi quem me largou. Ele, foi ele quem fez o contrário de sua próprias palavras, das promessas que me fez fazer. Foi ele quem me obrigou a quebrar uma das promessas que me obrigou a fazer.
E aqui, volto a citar minhas próprias palavras: nunca faça de alguém sua motivação do dia a dia, pois a vida vai arrumar um jeito de tirá-lo de você. Palavras ditas há muito tempo, mas que hoje me servem de ensinamento. Agora volto para o meu canto, que grita o meu nome, me chamando de volta para si. E, novamente, me isolo do mundo.
A vida é dura demais para ser vivida o tempo todo.
Estar sozinho nem sempre é um questão de corpos e sim, de mentes.

sábado, 26 de julho de 2014

Minha fantasia realista

Quer saber o real motivo pelo qual eu escrevo, de onde vem tanto amor pela escrita? E até o porque de eu não escrever sobre mim, sobre a minha história?  A resposta é a mesma e é bem simples: minha realidade é cruel e revoltante. Não posso reclamar de tudo ou de muito. Tenho uma vida boa e quase cômoda. Mas tenho coisas sobre as quais reclamar, se não, não teria porque escrever. Escrevo para fugir dessa realidade, escrevo porque posso fazer minha fantasia melhor e mais agradável. Talvez não tenha um final feliz, mas é o que eu tenho, é como eu quero. Uma fantasia realista. Mas não realista do jeito que eu vivo, mas sim a realidade que eu imagino. Uma fantasia realista longe da perfeição, sem ligação nenhuma com contos de fadas. Uma fantasia cheia de imperfeições, problemas, tristeza e descontentamento. Minha fantasia realista de uma vida que eu queria ter, porque, apesar dos defeitos, eu posso construir o início, reescrever o meio e fazer o fim, mesmo que não seja feliz, ser bom e agradável. Sendo assim, a escrita é a minha fuga dessa realidade, para uma realidade fantasiada. Realidade fantasiada de uma fantasia realista.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Jura mentirosa

Por duas vezes cometi o mesmo erro. Por duas vezes as mesmas palavras foram ditas ou escritas por mim. Por duas vezes fiz a mesma jura. Jura de amor eterno. Duas pessoas foram alvos dessa jura. Duas pessoas foram alvos dessa mentira.
Errei, menti e me iludi. Nunca contei a eles minha jura, nunca contei a ninguém, apenas ao meu reflexo do espelho, ou a minha própria sombra. Poucas vezes foram as que eu tornei essa jura oral, mas por muitas vezes pus no papel.
Palavras mentirosas e que não valiam nada em seu significado. Jurei ter para sempre algo que eu nunca tive, que ainda não tenho e, nos dias de hoje, espero nunca ter.
E novamente eu digo: se eu soubesse que a dor da perda era tão grande, eu nunca teria saído do meu canto. Pois seria melhor não ter conhecido, do que conhecer e ter perdido.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Criatividade...

Minha criatividade é como a maré. Tem períodos de cheia e períodos de seca. É inconstante, volúvel, imprevisível. Nunca se sabe quando deixará meu solo fértil.
- The Drama Queen
"A minha criatividade está mais para chuva de verão. Só vem na hora errada."
- Ingrid Condal
"Minha criatividade é como a onda. Cresce e logo some."
- Lucas Abelhas
"Minha criatividade é que nem comida. Quando eu vou pegar já acabou"
- Laríssa Colonia
"Minha criatividade é igual o meu dinheiro, vai e parece que não volta nunca mais."
- Matheus Hiuri

segunda-feira, 23 de junho de 2014

As únicas loiras não-vacas



As conheci há uns poucos episódios, há algumas poucas temporadas. Os episódios em que apareceram também foram poucos. E, em poucos episódios, em apenas alguns minutos, eu amei essas personagens. Duas loiras, mãe e filha, que um dia perderam um pai, um marido, para a caça. Duas mulheres, guerreiras, caçadoras. Destemor era o seu sobrenome. Posso dizer muitas coisas ótimas sobre elas, mas a verdade é que nada chegará nem perto do que elas são, nem da homenagem que elas mereciam. Lutaram bravamente até a morte. E sua morte não foi em vão, foi em sacrifício.
Dói saber que ela, a Jo, minha loirinha, sofreu antes de morrer. Mas me enche de orgulho saber, que ela teve coragem para se voluntariar para o sacrifício que era necessário para a permanência da vida dos demais. Pode parecer idiota de se dizer isso num texto de luto, ou até insensível, mas é a minha opinião: eu torcia para que ela ficasse com o Dean. E, nossa, quando ele a beijou pela primeira e última vez eu… Eu não tenho palavras para definir o que eu senti. Eu só consegui chorar e chorar. E até esse momento, minhas lágrimas molham o teclado do meu computador.
A parte mais deprimente, no meu ponto de vista, é o fato de eu já saber que ela iria morrer muito antes de isso acontecer. E eu não estava preparada quando o momento chegou. Quando o Cão do Inferno a atacou eu disse para mim mesma: relaxa. Respira. Não chora ainda. Ela não vai… Não pode morrer agora. Não agora. E eu acreditei naquelas palavras mentirosas que eu mesma proferi.
A Jo, desde o primeiro momento em que a vi, quando ela socou o nariz do Dean, ela passou a ser minha personagem preferida, não só da série, mas num geral. Você pode me xingar, me chamar de louca ou cega, dizer que eu tenho um péssimo gosto para personagens e que existem personagens melhores do que ela. Eu vou te responder com um curto e simples: DANE-SE! Ela ainda é minha personagem preferida. Não sei até quando vai ser (admito: sou muito volúvel em relação a personagens preferidos), mas ela ainda é. Desde sempre, eu vi, acho que todos viram, o quanto ela amava caçar, o quanto ela desejava fazer aquilo. E isso era simplesmente incrível! Eu admirei essa loirinha em cada palavra que ela dizia, em cada ação que ela praticava, em cada decisão que tomava, por mais estúpidas que fossem. Ela sabia o que queria, lutou por isso e no fim, conseguiu, e morreu fazendo aquilo que amava, ao lado de quem amava.
E assim entramos na tia Ellen. Sim, eu a chamo de tia. Minha tia linda e mal-humorada Ellen. Não quero fazer um discurso feminista aqui, mas a Ellen é um exemplo de que a mulher não é nem um pouco sexo frágil. Seu mal-humor constante é sua marca, seu destemor, sem cartão de visita, sua bravura, sua qualidade mais valiosa. Vou confessar uma coisa: quando o Roadhouse foi destruído eu chorei (eu choro o tempo todo. Acostume-se). Eu pensei que ela tivesse morrido. E, embora não tenha sido tão horrível quanto assistir a Jo morrer, eu sofri com a “morte” dela. Desde que seu marido morreu, tia Ellen cuidou de Jo e tentou a proteger desse mundo de caça, o que não adiantou muito.
Não adianta, todos os caminhos nesse texto levarão de volta a Jo, porque, por mais que eu goste ou ame a tia Ellen, eu sofri pela Jo. Lamentei pela Ellen ter perdido mais alguém para essa vida terrível e por ter assistido a morte dela. Mas a Jo… Ah, a Jo tomou a difícil decisão de acabar com a própria vida para salvar a dos outros. E, bem, ela era minha loirinha. Às vezes, acho que não sofri o bastante por ela. Agora mesmo, minhas lágrimas já secaram. Minha cabeça e meus olhos ainda doem, meu rosto está inchado, mas, nada de lágrimas. Creio que elas tenham cessado, que já tenha acabado o líquido do meu corpo, se é que isso é possível. Enfim, eu nunca senti que sofri o suficiente por um personagem, e acho que a Jo e a tia Ellen não serão uma exceção a essa regra.
Agora, para encerrar esse texto de uma vez, quero citar as palavras do título, a frase completa: Jo e Ellen são as únicas loiras não-vacas da série. Nesse momento, já sem lágrimas, concluo esse texto, com o coração em prantos. Não sei quanto tempo esse luto vai durar. Talvez seja momentâneo, talvez seja para sempre. Mas, de qualquer forma, eu senti, mesmo que por um breve momento, que o meu mundo realmente estava acabando, porque elas se foram.



domingo, 22 de junho de 2014

Meu canto

Se eu soubesse que a dor da perda era tão grande, eu nunca teria saído do meu canto.
Antigamente, eu vivia num canto. O meu canto. Esse canto falava comigo. Ele dizia, não que as pessoas eram más, mas que a vida era má. Dizia também, que eu se eu me fechasse, não interagisse, não fizesse amigos, teria uma chance de ser feliz. Eu sempre escutei e obedeci ao meu canto, eu fazia tudo o que ele dizia e tudo sempre correu muito bem para mim. Claro, tinham uns probleminhas aqui e ali pelo fato de eu sempre estar sozinha, mas solidão nunca foi um problema. Houve uma época em que eu até gostava dela. E ainda gosto. Até que um dia, eu conheci umas pessoas. Essas pessoas eram diferentes de todas que eu já tinha conhecido. Por muitas vezes eu pensei: por que não dar uma chance a elas,a vida? Mas a voz do canto viva ecoando em minha mente, e não me deixava esquecer de que eu era mais feliz assim. Eu me forçava a acreditar naquilo.
Um dia eu não aguentei. Eu os vi juntos, brincando, rindo. E eles me chamavam para fazer parte daquilo. O canto gritava em minha mente: não vá. Não vá. Resista! Mas eu não queria resistir. Eu queria saber como era a vida social, pela primeira vez na minha vida. Então, simplesmente ignorei a voz do canto e o abandonei.
No início, eu me senti desprotegida. Claro, eu estava me lançando  sorte, estava saindo do meu "porto seguro", explorando um terreno jamais explorado por mim. Estava me lançando nas da vida. Mas, com o passar do tempo, eu me acostumei e comecei a gostar desse novo estilo de vida: sempre cercada de gente, rindo, brincando. E, pela primeira vez, eu estava com pessoas loucas como eu. Eu não poderia estar mais feliz. "Quem diria", eu pensava, "largar o canto foi a melhor coisa que eu poderia fazer".
Eu não poderia estar mais enganada.
Enquanto estava com aquelas pessoas, fiz e vivi tudo o que uma adolescente normal deve viver: briguei, me reconciliei, me apaixonei, me iludi, sofri, superei. E tudo isso com elas, aquelas pessoas maravilhosas que me fizeram abandonar meu canto. Aquele que mentiu para mim o tempo todo, que me privou dessa felicidade.
Mas, como toda história bem escrita, essa também tem uma reviravolta. Sabe a vida? Sim, aquela que me deu essa vida, essas pessoas, essas coisas, todas elas. Ela me tirou tudo de uma vez só. Fez o meu mundo desmoronar, e aquela vida que eu tinha, acabar.
Hoje, eu não tenho mais nada. Tudo e todos estão distantes, muito distantes de mim. Tudo o que me restou foi voltar para o meu canto, aquele que, mesmo sem eu acreditar, tentou me proteger do sofrimento da perda.
E agora, volto a dizer as palavras ditas no início desse texto: se eu soubesse que a dor da perda era tão grande, eu nunca teria saído do meu canto.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Amianto

- Moça, apenas me escute, por favor. - o homem calmamente disse pelo telefone. - Eu não tenho nada o que escutar. Acabou. - ela disse, o impedindo de continuar falando. Sua voz embargada e falha por causa do choro. - Tudo bem. Tudo bem. - ele mantinha a voz num tom reconfortante e a respiração controlada, como fora instruído. - Você pode me contar o porquê de estar fazendo isso? - Não vejo como isso vai ajudar. - Acredite em mim. Às vezes, falar é tudo o que precisamos. - ela suspirou. Uma brisa de verão bagunçou seus cabelos cor-de-cobre. Ela olhou para baixo. Dezenas, talvez centenas, de pessoas a olhavam e diziam coisas umas para as outras. Coisas que ele não podia ouvir, pois estava na sacada de seu prédio, no 20° andar. O homem, embora nervoso, não insistiu em seu pedido. Esperava que ela quebrasse o silêncio, pois sabia que era um momento difícil para a mesma, e não podia pressioná-la a fazer nada. Teria que fazer tudo com a maior calma e paciência possíveis. - São muitas coisas. - ela disse finalmente. - Quer dizer, sempre foram muitas coisas. Mas parece que tudo resolveu pior de uma vez só. Essa frase o fez lembrar de uma frase que leu em um livro: “o universo quer ser notado”. Ele pensou em citar a frase, mas achou melhor não interromper. - As coisas ficaram realmente ruins - ela continuou - quando eu me mudei para esse apartamento: meu pai, que estava mal há bastante tempo, descobriu que tem câncer, perdi meu emprego, meu namorado terminou comigo, estou cheia de contas pendentes e prestes a ser despejada. E isso é só a ponta do iceberg. - sua voz saía ainda mais embolada agora que as lágrimas caíam freneticamente. - Entendo perfeitamente, mas… - Entende? - ela perguntou sarcasticamente. - Você não passou pelo que estou passando para entender metade do que estou sentindo. - O homem respirou fundo pelo nariz e soltou todo o ar pela boca. - Se me permite perguntar, quantos anos a senhorita tem? - ele indagou após alguns segundos de silêncio. - Vinte… Vinte e três. - gaguejou. - Moça, pela estrada que você está passando, eu já fui e voltei várias vezes. Sei bem o que está sentindo. - E conseguiu enfrentar tudo isso com essa calma? - ele soltou um risinho fraco. - Não. Claro que não. Eu sou ser humano, assim como todo mundo, moça. Teve momentos em que eu me desesperei, mas eu não desisti tão fácil. Eu lutei e consegui vencer. - Isso está parecendo discurso para pessoas deficientes. - ambos riram. - Mas, de qualquer forma, eu não sou tão forte assim. Não sou forte o bastante para lutar contra o universo. Não sozinha. - Por que não conta com seus amigos. sua família? - Que amigos? Que família? - ela disse. Pela sua voz, era perceptível que havia recomeçado a chorar. - Eu perdi todos. O homem pensou por um momento. Sabia que o que estava prestes a dizer, por mais que fosse verdade, soaria estranho. E ele não queria assustá-la. Mas, mesmo assim, disse: - Você tem a mim agora. A menina ficou surpresa, claro. Ele era um completo desconhecido. Era apenas um homem fazendo seu trabalho: impedí-la de se matar. Em nenhum momento passou pela sua cabeça que, talvez, ele dissesse isso para todos que tentasse salvar. Não, ela não se importava que não fosse a única que ouviu aquelas palavras. Ela só se importava com o fato de ter recebido aquelas palavras. Mas, ainda assim…: - Isso não importa agora. - Moça, me… - Não. Me desculpe, mas eu não posso continuar com isso. - Só me escuta, por favor. Desce daí, deixa eu te levar pra um café. Prometo te ouvir e tentar te ajudar no que eu puder. A menina sorriu em meio as lágrimas. Era tão bom sentir-se importante para alguém. Por um momento pensou que a vida poderia ser diferente, melhor. Mas esse momento foi breve demais. - Promete que se lembrará de mim? - ela perguntou. - Não. Espera, por favor. - Promete? Ele não conseguiu dizer mais nada. Sua garganta estava fechada, seus olhos ardiam e sua respiração ficou desregulada. Ele sabia que tinha perdido mais uma pessoa. - Prometo. - Não fique triste, moço. Todos vamos cair um dia. Tudo o que ouviu depois disso foram gritos ao longe e um barulho parecido com o que ouvímos, quando colocamos um microfone em frente a um ventilador ligado, ou com um celular em queda livre. Mas, da parte da menina, não se ouviu nenhuma grito, nenhum gemido, nada. Ouviu um barulho de sirene e, logo após, algo como um baque. Então ele soube que ela já não estava mais aqui.

Conto baseado na música Amianto - Supercombo. Postado também em: http://www.wattpad.com/55166562-just-words-amianto.
Meu perfil: http://wattpad.com/thedrama-queen

quinta-feira, 29 de maio de 2014

As estações da minha vida

Quanto tempo não te via
Minha vida estava fria como no inverno
Minha felicidade estava indo embora como as folhas no outono
Estava desesperado(a)
Até que um dia você apareceu inesperadamente
Então meu sangue ferveu como um sol quente de verão
Meu coração bateu como mil tambores
E minha vida floresceu como os campos na primavera
De tão nervoso(a) que estava, não consegui falar com você
Mas me arrependo profundamente
de cada momento em que fiquei em silêncio na sua presença.

O orgulho fala mais alto

Vestiu-se com um shorts jeans rasgado e uma regata preta, calçou seu all star preto surrado, fez um coque frouxo em seus cabelos castanhos claros, jogou o celular e as chaves dentro de uma bolsa qualquer e saiu. O dia estava calmo: ruas vazias, sem aquela multidão costumeira, nada de carros, nem motoristas estressados por causa do trânsito. Apenas ciclistas e alguns poucos pedestres. O sol brilhava na imensidão azul. Seria um bom dia para fazer uma visita, ainda que breve, a casa de praia de seus pais. Mas, infelizmente, não tinha dinheiro para fazer tal viagem, pois gastara todo o seu salário fazendo compras. "Eu precisava de roupas novas.", justificava-se. A verdade é que Débora Ferraz é a garota de 22 anos mais irresponsável do mundo, economicamente falando. Porém, ainda que seus pais, amigos e parentes lhe dissessem e repetissem isso, ela insistiu em ir morar sozinha.
...
Ele procurava desesperadamente as chaves do carro. Como pôde esquecer onde guardara as chaves? Isso o fez sentir falta da época em que morava com a mãe. Ele tinha que sair de casa naquele exato momento, pois estava atrasado para o primeiro dia de faculdade. Depois de muito procurar, decidiu ir a pé mesmo, afinal, não era tão longe assim. Mas, mesmo não sendo tão distante, ele teria que correr, e muito. Pegou a mochila e saiu correndo em direção ao elevador. Apertou o botão uma, duas, três, milhares de vezes e nada de o elevador aparecer.
- Vou pela escada mesmo - disse para si mesmo, correndo para a escada em seguida.
Por sorte morava no terceiro andar, logo, não demorou muito a chegar no térreo, embora, ainda assim, estivesse ofegante.
Sam Mendez não era fã de atividade físicas, mas sabia que precisava sair do sedentarismo, pois ir a pé para os lugares estava virando rotina.
Pegou o caminho do parque, o qual costuma ficar vazio nas manhãs de quarta-feira, assim, não precisaria prestar tanta atenção para não esbarrar nas pessoas no seu caminho.
...
Embora parecesse, Débora não era essa garota alegre que todos pensavam. Lá no seu íntimo, ela lamentava ter perdido aquilo, ou melhor, aquele que era tão importante para ela. Ah, como ele fazia falta no seu dia-a-dia. Mesmo que não se vissem todos os dias, se falavam em quase todos. E na época em que ainda tinham contato um com o outro, ficar sem falar com ele era como não poder respirar. E então ele se foi. Não se sabe para onde, não se sabe porquê. Ele simplesmente desapareceu. Não respondia as mensagens, não atendia nem retornava ligações... Era como se nunca tivesse existido. E, mesmo que isso tivesse acontecido há anos atrás, ainda doía, pois, depois dele, Débora nunca havia se apaixonado por mais ninguém.
...
"De volta ao lar", Sam pensou enquanto passava em disparada por uma árvore. Estar de volta a cidade onde nasceu era realmente muito bom. Lhe despertava lembranças de uma ótima vida. Lhe despertava lembranças dela. Sam parou e se escorou em uma árvore, a mais velha de todo o parque, ofegante. Débora, Déh. Era dela que sentia falta, da sua morena. Lembrava-se bem do dia que saiu da cidade. Ele não queria que tivesse sido daquela forma, mas depois da morte de sua mãe, ele não aguentou, entrou em um caso grave de depressão. Seu pai foi orientado a levá-lo para longe de tudo o que pudesse lembrar sua mãe. E então ele foi levado para a casa de sua tia, onde foi proibido de manter contato até com o próprio pai, o qual achava um tratamento um pouco radical, mas faria tudo para o bem de seu filho.
Sam balançou a cabeça para afastar o pensamento e continuou sua corrida, pois agora já estava muito, muito atrasado. Somente com sorte entraria na faculdade.
...
A praça estava vazia, assim como havia previsto. Seu passeio seria tão tranquilo quanto desejava. Mal sabia ela o que o destino havia lhe preparado para hoje. Ela caminhava calmamente pela pista de corrida, certa de que ninguém correria hoje. Provavelmente estariam todos trabalhando ou estudando a essa hora. E sua caminhada continuou até seu celular vibrar. Ela havia recebido uma mensagem. Pegou o celular na bolsa e desbloqueou a tela, mas antes que pudesse ver ao menos quem havia enviado a mensagem, foi surpreendida com um impacto que a derrubou no chão.
Durante a queda, Débora soltou um grito agudo e estranho, seu celular saltou de sua mão e caiu na parte asfaltada do parque, a bateria do celular caiu na grama. Depois de recuperar a consciência e processar tudo o que aconteceu, Débora percebeu que tinha um ser humano em cima dela, a impedindo de levantar.
- Mas o que...? - Ela disse. - Dá pra sair de cima de mim? - Gritou dessa vez.
- Me desculpa. - O menino disse enquanto se levantava, estendendo a mão para Débora logo em seguida.
...
Sam apressou-se em levantar e estender a mão para a menina que permanecia caída no chão. Ela a ignorou e levantou-se sozinha. Sam, por sua vez, recolheu sua mão discretamente.
- Você devia olhar por onde anda. - A menina disse, claramente aborrecida.
- Eu já pedi desculpas.
- Desculpas não irá fazer meu joelho parar de doer. - Ela disse limpando ao redor da ferida que se formou em seu joelho, erguendo a cabeça em seguida.
Sam congelou quando viu aquele par de olhos castanhos, o nariz fino, os lábios delicados. Aquele rostinho de boneca era inconfundível. Seu sangue fervia como mil sóis. Ele queria tê-la em seus braços de novo. Queria sua morena, sua baixinha.
...
Débora não acreditou no que seus olhos viram. Seu coração batia tão forte que parecia que saltaria para fora a qualquer momento. Não poderia ser ele, poderia? Já fazia tantos anos... Não era possível que ele tivesse voltado logo agora. Mas mesmo assim, pensar que poderia ser ele lhe dava um misto de felicidade e animação. Ela tinha vontade de lançar seus braços ao redor de seu pescoço, o abraçar e nunca mais deixa-lo ir. Mas a questão era: se fosse realmente ele, será que ele se lembraria dela? Ela não queria passar por esse constrangimento, por mais que doesse a possibilidade de deixar o amor da sua vida ir embora novamente.
O mesmo se passava na cabeça de Sam: e se ela não se lembrar mais de mim? E se ela lembrar, mas me odiar por ter ido embora sem avisar, por não ter dado notícia? Ele não queria passar por esse desapontamento.
Então, ficaram ambos parados, com os olhos fixos um no outro, pensando se deveriam ou não dizer alguma coisa, ou se deveriam simplesmente voltar a andar como se nada tivesse acontecido. E, por fim, a segunda opção prevaleceu. Sam continuou seu caminho para a faculdade, ainda que sua cabeça estivesse na menina de cabelos castanhos. E Débora seguiu o caminho contrário de Sam. Tomaram caminhos opostos, mas o sentimento era o mesmo: arrependimento. Arrependimento de não ter aproveitado a oportunidade, por ter deixado o orgulho falar mais alto.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Amei-te sem querer te amar
Apaixonei-me sem querer me apaixonar
E agora, preso nesse círculo de água e fogo, sufoco-me
O ar, que agora também me deixa, alimenta o fogo
A água luta para permanecer mais forte
E, no meio desse conflito, ainda sufoco-me
Meus pulmões clamam por ar
Mas este já não existe mais
Fora consumido pelo fogo
E agora, o fogo também está a me consumir
Meu corpo arde
O calor derrete meu cérebro
A última gota de razão me abandona
Agora, completamente queimado, perco minha batalha:
- Meu coração é todo teu.
O coração não erra. Nós é que erramos ao ouvi-lo, ao tentar compreendê-lo, ao tentar acompanhá-lo, ao querer fazer sua a sua vontade, ao obedecê-lo.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Primeiro e último amor

O céu já estava escuro. Algumas estrelas brilhavam aqui e ali, quebrando o preto intenso vindo do alto. O amanhecer estava perto. As ruas por onde passaram, ainda vazias, logo estariam cheias de trabalhadores. Vítor dirigia em alta velocidade, o que deixava Sofia nervosa. Ele estava sumido, não deu notícia nas últimas  semanas e hoje a acordara com uma estranha ligação no meio da madrugada, a chamando para um passeio. Sofia, mesmo que receosa, aceitou. Vestiu seu casaco cinza, prendeu o cabelo de qualquer jeito e foi ao encontro de Vítor, que já a esperava do lado de fora. E agora estavam ali, passando por ruas que ela não conhecia, indo em direção à parte menos habitada da cidade. Embora Sofia depositasse toda sua confiança nele, sua parte consciente gritava em alerta, dizendo-a para que pulasse daquele carro e corresse para longe de Vítor. Mas ela teimava em acreditar que ele nunca seria capaz de fazer mal algum a ela.
Vítor, ao contrário de Sofia, estava calmo, mesmo que sua expressão demonstrasse preocupação e nervosismo. Mesmo sem olhar diretamente para ela, Vítor pôde sentir o medo de Sofia. Ele não queria que ela estivesse assim, pois, por mais estranho que fosse o convite, eles se conheciam há anos, tinham uma longa história juntos. "O mínimo que se espera disso é um pouco de confiança", ele pensava.
Sofia não havia olhado para ele nenhuma vez desde que estraram no carro. Já Vítor, a olhava pelo canto do olho, para ver sua expressão facial, mas tudo o que via era sua cabeleira ruiva. O silêncio reinava dentro do carro e nenhum dos dois atrevia-se a quebrá-lo.
Sofia estava ficando inquieta, pois o local em que estavam era praticamente deserto, habitado apenas por homens desonestos e abandonados. Quanto mais avançavam, menos luz havia pelo caminho, a quantidade de postes de iluminação iam diminuindo, até que chegou o momento em que os faróis do carro eram a única fonte de luz.
Vítor parou o carro, o que provocou em Sofia uma onda de alívio e desespero. Ele colocou o carro em ponto morto, tirou o cinto de segurança e virou-se para Sofia. Ela permanecia com a cabeça encostada no vidro da janela, olhando para o lado de fora.
- Sofia. - Vítor chamou, fazendo-a levantar a cabeça e olhar para ele. - Você está bem? - Perguntou preocupado, observando sua expressão amedrontada.
- Sim. Só estou com um pouco de sono. Só isso.  - Ela respondeu, mas ambos sabiam que era mentira. Ele continuou a observá-la, o que fez Sofia corar e desviar o olhar, o qual antes miravam as duas pérolas verdes que Vítor tinha no lugar dos olhos. - Não vai dizer porque me trouxe aqui? - Ela perguntou olhando para as próprias mãos.
- Ah, sim. Claro. - Ele disse desviando o olhar por alguns poucos segundos, logo voltando a encarar o rosto delicado de Sofia, cobertos por alguns cachos ruivos rebeldes que se desprenderam. - Quero lhe mostrar uma coisa. - Disse finalmente.
- Tudo bem. - Sofia disse sem erguer o olhar.
- Tudo bem mesmo? - Vítor ainda tinha em sua cabeça que ela não tinha confiança nele. E ele não queria obrigá-la a ir em lugar algum. Isso era para ser um passeio agradável. Sofia apenas assentiu e eles saíram do carro.
Andaram em silêncio por alguns minutos. Aquela situação chegava a ser constrangedora de tão estranha. Geralmente, quando estão juntos, silêncio é uma coisa não que existe. Os diversos assuntos surgem de todos os lugares e sempre geram risadas. Mas dessa vez era diferente. Sofia estava com medo demais para conseguir dizer alguma coisa e, mesmo que conseguisse, não queria correr o risco de irritá-lo, pois ele poderia fazer-lhe mal. E Vítor não queria correr o risco de assustá-la ainda mais, pois o medo já estava estampado em seu rosto. Para Sofia, a aparência daquelas ruas só deixavam toda aquela situação mais amedrontadora: casas abandonadas, nenhuma iluminação, uma escuridão sinistra, sem falar nos barulhos estranhos e frequentes.
- Chegamos. - Ele informou.
- Era isso que queria me mostrar: um portão de ferro? - Eles estavam diante de um portão de ferro que tomava conta de quase toda parede e não os deixava ver o que tinha por trás dele. Ele sorriu.
- Paciência gafanhoto. - Sofia revirou os olhos e Vítor riu de sua impaciência, o que a fez relaxar um pouco.
Vítor a afastou gentilmente do grande portão e o abriu.
- Uau! - Exclamou Sofia.
O lugar não era muito grande, nem muito  bonito. Tinha um aspecto abandonado e cheiro de mofo. Tudo o que continha ali estava coberto de poeira e teias de aranha. Mas o que chamou a atenção de Sofia não foi o local em si, mas sim a bela vista que eles tinham dali. Somente naquele momento ela percebeu que eles haviam subido durante todo o caminho. E dali de cima, era possível ver toda cidade.
- Eu venho aqui desde que tinha 8 anos. - Vítor disse a acompanhando até a beirada, de onde teriam uma visão mais ampla da cidade.
- Por que nunca me contou?
- Porque eu precisava de um lugar só meu. Tudo o que eu tenho eu divido com alguém, até mesmo os meus segredos. Eu sentia falta de ter alguma coisa só minha.
- E por que resolveu me mostrar isso agora? - Sofia perguntou desviando seu olhar da cidade, e voltando-o para Vítor, o qual estava com o olhar fixo no horizonte.
- Porque está na hora de eu dividir tudo o que tenho, pois daqui a alguns dias nada mais será meu. - Ele respondeu, sem nunca desviar o olhar da cidade. Esse diálogo, ainda que pequeno, já estava assustando Sofia.
- O que quer dizer com isso? - Ela perguntou, ainda que tivesse medo da resposta. Vítor ficou em silêncio por alguns segundos, então suspirou e finalmente respondeu:
- Eu vou embora, Sofia. - Essas palavras a atingiram como um soco no estômago.
- Embora? Mas para onde? Por quê? Seja onde for eu vou com você. - Disse decidia e desesperada.
- Ah, Sofia! - Ele sussurrou abaixando o olhar. - Você não pode ir comigo. - Completou.
- Mas você vai voltar, não é? - Vítor, ainda de cabeça baixa, soltou um riso fraco e balançou a cabeça em negação.
- Essa é uma viagem sem volta, Sofi. - Ele a chamou pelo apelido pela primeira vez na noite. A garganta de Sofia se fechou. Ele era seu único amigo, seu primeiro amor. Ela tentava segurar as lágrimas, mas elas eram teimosas e acabaram por vencer e rolarem por seu rosto.
- Como você pode me abandonar assim? Depois de tudo... - Ela gritava. Sua voz saiu estranha e embargada.
- Eu não tenho opção, Sofia. - Ele alterou a voz e virou-se para ela. Vendo seu rosto encharcado pelas lágrimas, suavizou sua expressão e suspirou profundamente, buscando acalmar-se. - Sofi... - Sussurrou acariciando seu rosto com a mão direita, enxugando suas lágrimas. Ela fechou os olhos, aproveitando cada momento de seu toque. - Você precisa me ouvir. - Completou no mesmo tom de voz. Era difícil para ele dizer aquilo. Mas difícil do que qualquer coisa que ele já fizera na vida.
Ela era a pessoa mais especial da vida dele. Quando todos viraram as costas para  ele, o vândalo, o sem futuro, aquele que todos achavam que não tinha mais esperança de melhora, ela chegou e o mudou. Ela viu o lado bom no meio de todo aquele mal. E agora tinha que abandoná-la, deixá-la sozinha. Ele devia muito a ela, mas nunca teria a chance de pagar. Ele, já angustiado por não conseguir encontrar as palavras certas, a puxou pela cintura e a beijou. O beijo mais intenso e apaixonado que eles já deram. O melhor de todos, com certeza. E provavelmente, um dos últimos. Vítor separou seus lábios e a abraçou.
- Eu estou morrendo, Sofi. - Sussurrou em seu ouvido. O coração de Sofia parou naquele momento. Ela queria acreditar que tinha escutado errado. Saiu do abraço e observou o rosto de Vítor. O sol nascente refletia na metade do rosto de Vítor, fazendo seus olhos parecerem mais claros do que realmente são.
- Morrendo?
- Eu tenho câncer, Sofi. Estou em estado terminal. - Ele disse sem olhá-la.
- Por que não me disse antes? - Sua voz quase não saía, pois as lágrimas ameaçavam cair novamente.
- Não queria te preocupar, nem te assustar. Queria que nossos últimos dias fossem normais e especiais. Queria esquecer dessa maldição quando estivesse com você. - Agora Vítor que estava quase chorando. - Nessas últimas semanas, eu preferi ficar sozinho para tentar descobrir como te contaria isso. - Ele finalmente cedeu e deixou as lágrimas rolarem. - Se eles estiverem certos, eu só tenho mais essa semana de vida. - Agora ela é quem secava as lágrimas dele.
- Eu sinto muito. - Foram as únicas palavras que ela encontrou para dizer. Ele a abraçou novamente e disse em seu ouvido:
- Você foi meu primeiro amor, Sofia. E também será o último.

Razão e emoção na solidão

Solidão é estar só. É ser o único corpo ocupante de um espaço. Ela pode ser por opção ou involuntária, pode trazer dor e sofrimento ou paz e satisfação.
Quando estar só é uma opção, quem agradece é o coração, pois é nesse momento, no vazio e no silêncio, que libera suas verdadeiras emoções. É  momento em que se pode usar a razão, mesmo estando em conflito com a emoção.
No entanto, quando a solidão é involuntária, quem domina é a emoção: desespero e preocupação. Solidão se torna abandono, então dor e sofrimento dominam minha mente e meu corpo, descartando a razão. Minha mente entra em conflito com o coração. A emoção foge de meu controle e desejo obter a razão, expulsa por ordens do coração.
Mesmo estando diante de uma multidão, posso estar só, seja no mundo físico ou no mundo mental, seja em ações ou em pensamentos. Sempre, mesmo que por um momento, estarei na solidão, presenciando o conflito da mente com o coração.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Nos vemos do outro lado

"Tiago aproxima-se da menina sentada na pracinha do shopping. Parece que vai pregar-lhe um susto, mas imposta a voz e diz com pose de galã:
- A senhorita com ar tão solitário, espera alguém?
Depois do ligeiro susto, ela empina o nariz e diz toda afetada:
- Sim, o meu namorado, um príncipe!"
Tiago abre um sorriso travesso e observa a menina de cima a baixo. Ela vestia um vestidinho vermelho, com um sinto dourado e nos pés, uma sapatilha também vermelha. A menina o olhava curiosa. Tiago, parando o olhar na boca da menina, perguntou:
- Posso acompanhar-lhe em sua espera?
A menina hesita, mas assente, permitindo que se sentasse junto à ela.
- Por que escolheste logo esse banquinho, velho e frágil, para sentar-se, tendo muitos outros ao longo da praça? – A menina perguntou, olhando pela primeira vez nos lindos olhos azuis de Tiago.
- Ora, eu procurava uma companhia de lindos cachos loiros, assim como os seus, e olhos castanhos. – Tiago respondeu. – E devo dizer que não poderia ter encontrado companhia mais bela! – Um sorriso se formou no canto direito de seus lábios, ao ver que a menina corou levemente.
- Agradeço o elogio, cavalheiro, mas eu tenho namorado. – A menina disse sem jeito.
- Tenho meus motivos para acreditar que a senhorita está mentindo.
A menina abriu um sorriso e perguntou:
- O senhor é o que? Médium?
- Se isso for o suficiente para conquistar seu coração. – Tiago respondeu, abrindo novamente o sorriso travesso. – E qual seria o nome da senhorita Cachinhos Dourados?
- Amanda. – A menina respondeu, ainda com o sorriso nos lábios. – E o cavalheiro, como se chama?
- Pedro. – Tiago mentiu.
- Por que sinto que o cavalheiro mente para mim? – Amanda perguntou, certa de que Tiago mentia.
- Acho que não sou o único médium nessa praça. – Tiago disse sorrindo. – Me chamo Tiago.
- Tiago.  – Amando repetiu. – Nunca o vi por aqui. É novo na cidade?
- Na verdade, sim. – Tiago respondeu. Antes que pudesse completar a fala, ouviu os gritos dos policiais:
- Ali está ele! Peguem-no! – O disfarce de Tiago havia ido por água abaixo. Como conseguiram encontra-lo ali? Ele tinha que pensar rápido. Não podia ser preso novamente.
Tiago sacou a faca que sempre carregava consigo e tomou Amanda como refém. A loira, sem entender, ficou paralisada de medo.
- Me desculpe por isso, Amanda. – Tiago cochichou em seu ouvido.
- Parado! – Um dos policiais gritou. Amanda tinha a faca em seu pescoço. Com o mais curto movimento, ela estaria morta.
- Aproximem-se e eu a mato! – Tiago gritou. Amanda chorava descontroladamente. Todos ficaram em silêncio. Então, um disparo foi ouvido. Tiago soltou um grito de dor. Ele havia sido atingido na perna. Caiu de joelhos, sem nunca soltar Amanda. Um dos policiais começou a se aproximar de Tiago.
- Sabe, Amanda. Eu gostei de você. – Tiago disse para Amanda. – Eu até te chamaria para sair, mas eu não posso passar por mentiroso. Um deles está se aproximando, eu tenho que cumprir minha palavra. – Num movimento rápido e preciso Tiago cortou a garganta de Amanda.
O corpo da loira caiu no chão e permaneceu imóvel. Quase que imediatamente, outro disparo se ouviu e Tiago caiu. Ninguém conseguiu ouvir suas últimas palavras, pois foram sussurros:

- Nos vemos do outro lado, Amanda.

Um texto sobre amor

O amor é uma coisa que não se pode colocar em palavras. É algo complexo, além da capacidade humana. É algo poderoso e maravilhoso. O amor pode mudar pessoas, formar família, manter as pessoas unidas, pode fazer reinar a paz. Mas, como tudo na vida, tem o lado negro da história, que é o lado que pode acabar com toda maravilha do mundo. O lado sombrio.
O amor sempre é apresentado como algo apaziguador, unificador, etc, mas na verdade, pode causar guerras, mortes, revoltas, amargura, desespero, rancor, raiva, tristeza, abandono. O amor nos leva a fazer  as maiores loucuras por ele para, no final, chorar e sofrer como uma donzela indefesa. O amor engana, ilude. Nos faz pensar que coisas irreais podem de fato acontecer. Tira nossos pés do chão e nos faz flutuar entre as mentiras. 

sábado, 10 de maio de 2014

Fim, partida, morte, saudade, luto...

Vou te contar uma coisa: vida de leitor não é fácil. Quando lemos, nossa dores são multiplicadas. Tudo o que acontece conosco, tudo o que presenciamos e sentimos, é mais intenso. E como se não bastasse sofrermos mais intensamente, sofremos inúmeras vezes, pois não lemos apenas um livro, um conto, uma história. E em cada história, não encontramos apenas uma morte, uma despedida ou somente um  acontecimento que simplesmente acaba com a nossa vida. São muitos, variando de história para história. O fato é, estamos todos sujeitos à tristeza profunda, mesmo que ela dure apenas alguns minutos.
A despedida é uma das piores coisas que existem. Até hoje nunca encontrei ninguém que dissesse: "Despedidas? Amo! Melhor coisa inventada até hoje.". Fala sério... Quem é que gosta de despedida? Ver aquela pessoa querida partir, aquela que passou tantos momentos com você, aquela que te emocionou, te fez rir, chorar, sofrer, festejar, comemorar em cada página, em cada palavra ao longo da história. Aquele casal perfeitinho sendo desfeito por causa do típico intercâmbio... Malditos intercâmbios. O momento mais deprimente: a despedida no aeroporto. Todo aquelo melodrama, aquele lance meloso de um casal que se ama se separando. Eu não sei vocês, mas eu choro rios de lágrimas.
E quanto a morte? Despedida definitiva. Morte é morte... Não tem volta. A personagem simplesmente se vai e não volta nunca mais. É aquele tipo de despedida que realmente acaba com você. E, na minha opinião, é ainda mais horrível quando você pensa que você conhece o caráter da personagem, você sabe o quão incrível ela é, mesmo que seja uma vilã, o fato é que você gosta da personagem, mas você não pode conhecê-la de verdade, não pode realmente estar com ela, porque ela não existe. E mesmo ela não existindo, quando ela deixa de existir, você sofre.
O fim. Ah, o fim... A única parte que supera a morte de uma personagem. Quando uma personagem morre, a vida dela acaba (sério? não me diga...), mas quando uma história acaba, a vida de todos acaba, inclusive a nossa. Por muitas vezes eu ouvi pessoas falarem: "O livro foi feito para nos entreter, nos tirar da realidade", e eu concordo plenamente. O livro é o nosso mundo alternativo, mesmo que muitas vezes relate a realidade. Sendo ele nosso mundo, quando ele acaba, nosso mundo acaba e sem mundo, não podemos existir, logo nós também acabamos. Nós deixamos de existir, assim como cada personagem.
Talvez aqueles que não são leitores me achem maluca por dizer coisas assim. Talvez até os leitores me achem maluca por dizer essas coisas, mas essa é a minha realidade. Pode ser apenas um drama meu, ou talvez seja porque estou muito sensível e sentimental hoje, mas é o que se passa em minha mente, é o que eu sinto quado leio.

Lágrimas

Lágrimas dispensam apresentação
E não necessitam de explicações
Elas por si só falam
Mesmo sem palavras
Sentimento a elas não faltam
Elas transmitem a dor da alma
Liberando às vezes a calma
Elas rolam nos rostos
Trazendo uma mensagem
Mensagem muitas vezes não ditas
Por razões de alma aflita

Se não disser agora, nunca direi...

Calças, shorts, blusas, camisetas, tênis... Joguei tudo dentro da mala e a fechei num movimento rápido e brusco. Essa mudança veio em péssima hora. As coisas estavam indo tão bem. Quero dizer, não todas as coisas, mas a maioria delas. O fato é: eu estava bem aqui. Então, meus pais inventam essa mudança sem motivo. Ou talvez até tenha algum motivo, mas realmente não me interessa. Ergo a mala e a lanço para cima da cama, ao lado das outras duas, as quais estão com os meus livros, vídeo game, computador e tudo mais.
Há alguns dias atrás eu até pensava em recomeçar tudo do zero (a verdade é que o fato de algumas coisas estarem bem, não impede que muitas outras estejam ruins), mas esse recomeço eu faria em minha mente, no meu caráter, no meu modo de viver. Eu queria me descobrir de novo, assim como eu já fiz várias vezes, assim como todo pré-adolescente faz.
- Filha, já está pronta? – Ouvi minha mãe gritar.
- Já. – Gritei em resposta.
Me joguei no meu pufe azul e observei meu quarto. A maior parte das coisas já está empacotada. Agora resta apenas meu guarda-roupa, minha cama, meu pufe e várias caixas esperando para serem despachadas. Fechei os olhos e inspirei profundamente soltando o ar pela boca logo em seguida. Abandono, esse é o cheiro que sinto.
Não quero dar adeus a isso tudo. Moro nessa casa desde que nasci e agora, já com 17 anos, tenho que me mudar. Se eu fosse deixar poucos coisas para trás... Mas não. Amigos, família, casa, escola, uma pessoa mais que especial... Toda a minha vida. Ainda de olhos fechados, joguei minha cabeça para trás, apoiando-a no pufe. Senti um lágrima solitária escorrer pelo lado esquerdo do meu rosto, mas logo a enxuguei. Não posso ficar assim. Tem que ter um lado bom nisso tudo, certo? Nada pode ser cem por cento ruim.
Ouvi a porta do meu quarto sendo aberto e me levantei num salto. Me virei para porta e me deparei minha mãe, a qual está apenas com a cabeça para dentro do quarto.
- Querida, saímos daqui a 2 horas. Quer ir a algum lugar antes? – “É claro que eu quero!”, pensei. Tem uma coisa que eu preciso fazer antes de ir, pois, se eu não o fizer agora, eu nunca farei.
- Na verdade, quero sim, mãe.
- Quer que te leve?
- Não, eu posso ir a pé. Obrigada.
- Tudo bem, então. Não demore a voltar. – Esbocei um sorriso em resposta e ela saiu do quarto.
Depois de tomar um banho rápido, penteei meu cabelos loiros e os deixei soltos, contornei meus olhos cor-de-mel com lápis preto e delineador, vesti uma calça jeans, uma blusa preta apertada e um colete jeans e calcei meu all star preto. Peguei meu celular e saí do quarto. Desci as escadas correndo e saí de casa sem avisar a ninguém. Minha mãe já sabe da minha saída, ninguém mais precisa saber.
A casa dele é aqui perto, apenas duas quadras de distância. Não sei de onde tirei essa coragem, só sei que, se eu nuca mais vou vê-lo, tenho que fazer isso... por mim. Hoje o tempo está nublado. De manhã cedo choveu, por isso as ruas estão molhadas. O cheiro de terre úmida vindo dos pequenos jardins na frente das casas invade minhas narinas. O céu cinza dá um aspecto ainda mais deprimente para esse dia que não poderia estar pior. Apesar da chuva, o dia está abafado. Não se tem sinal do frio. Ando a passos lentos, mesmo sabendo que não tenho muito tempo. Mas quero aproveitar essa última oportunidade que eu tenho de andar por essas ruas.
Não demoro a chegar em sua casa. Encaro o grande portão de ferro que me separa da porta de entrada da casa. Agora que estou aqui, não tenho certeza se quero fazer isso. Quero dizer, isso é loucura, dizer o que sente para alguém. Os “e se” invadem minha mente: E se ele não quiser mais falar comigo? E se ele simplesmente me rejeitar? E se ele espalhar para todo mundo e eu virar motivo de piada? E se... E se... E se... Mas, pensando bem, eu não estarei aqui para ver nada disso. Empurro o portão com a mão direita, ainda relutante. Por mais que minha mente diga “Vá!”, o meu corpo grita “Volte!”. Mas eu já sei o que eu quero fazer. E eu vou fazer! Ando a passos ainda mais lentos até a porta. Paro à um passo de distância da porta e respiro fundo. São só algumas palavras. Que mal elas farão? Ergo minha mão com os punhos serrados para bater na porta, mas me lembro do que ele me disse um vez: “Você é de casa. Não precisa bater. [...] A chave fica no vaso da maior planta. Quando quiser, é só entrar.” Fui até o vaso de uma planta com grandes e altas folhas verdes. Ali pude encontrar a chave que eu só usei uma vez. A envolvi com meus dedos. Você pode fazer isso. São só palavras. São só palavras. Abri a porta e entrei. A sala está vazia e silenciosa. Não parece que tem alguém em casa. Lembro-me que ele me disse que seus pais estariam em viagem de negócios ele ficaria responsável pela casa. Olhei na cozinha. Ninguém. Me direcionei até a porta da frente. Quando pus minha mão na maçaneta, ouvi um barulho vindo lá de cima. Pode ser ele. “Ou um ladrão”. Cala-te consciência!
Subi as escadas contando cada passo.
- Pedro? – Chamei. – Pedro, é você? – Já no alto da escada, vi a porta do quarto dele se abrir.
- Amanda? – Pedro disse parecendo surpreso ao me ver ali. Eu sorri.
- Oi. – Foi tudo o que consegui dizer. Ele está vestindo uma bermuda azul, descalço, sem camisa e com seus cabelos bagunçados.
- Pensei que já tivesse ido. – Saiu do quarto e fechou a porta atrás de si.
- Não, eu vou daqui a pouco. – Respondi me aproximando dele.
- Posso te ajudar em alguma coisa? – Pedro parece estar nervoso.
- Hum... Eu queria falar com você. Tem alguns minutos?
- Claro.
- Bom, eu... Bem... Quando a gente... Sabe... – Diga, Amanda. São apenas palavras!
- Está tudo bem, Amanda?
- Para falar a verdade não muito... Eu só não consigo...
- Organizar os pensamentos em frases? – Sugeriu.
- Isso. – Afirmei sorrindo. Ele sempre faz isso, adivinha meus pensamentos. Afinal, ninguém me conhece como ele.
- Tudo bem. – Ele disse mais para si mesmo do que para mim. – Não acha melhor você ir para casa. Quando tiver conseguido se organizar, me liga. Assim podemos conversar com mais calma.
- Não. Eu tenho que fazer isso pessoalmente, Pedro. Se eu não o fizer agora, eu nunca farei e me culparei por isso pelo resto da vida. – Ele suspirou.
- Tudo bem, então. Só não esqueça que você tem um avião para embarcar daqui a pouco.
- Eu sei. – Dei dois passos em sua direção. Estamos agora à um passo de distância. – Pedro, eu... Eu...
- Você...? – Por que você não pode adivinhar mais essa vez?
- Eu não... – Diga, sua estúpida! Eu não vou conseguir dizer. Eu sei que não... Mas não posso deixar que esse tempo que gastei aqui seja perdido. Não ajo mais segundo o meu lado racional, mas por puro impulso. Dou o passo que me separava de Pedro, ponho minhas mãos em sua nuca e o puxo para um beijo. Ele parece surpreso no início, lógico! Mas logo envolve minha cintura e me puxa para si, acabando com o espaço entre nós.
- Pedro, você... Mas o que? – Ouço uma voz feminina vinda de trás de Pedro. Ele me solta bruscamente, me empurrando para longe.
- Melissa, eu posso explicar. – Ele diz para a morena que agora tem nome. Ela está descalça, assim como Pedro, seus cabelos estão amarrados num coque malfeito no alto da cabeça e veste uma blusa masculina que cobre parte de suas coxas, a qual eu deduzo que seja do Pedro.
- Não precisa explicar. Eu já entendi. – Melissa diz e entra no quarto, batendo a porta com força.
- Olha o problema que você me arrumou, garota. – Pedro diz voltando-se para mim, indo em direção a porta em seguida. Meus olhos começam a marejar. Virei-me e corri para fora. É muita informação para processar.

Olho para o céu. Um trovoada, duas trovoadas... Vai chover. Era só o que faltava. Corro, corro e corro. Passo pelo minha casa, mas continuo correndo. Ouço alguém gritar meu nome, mas eu não dou atenção. Continuo correndo. Carros buzinam, desvio de ciclistas e motoqueiros que me xingam, mas eu continuo correndo. Até que tropeço e caio. Quando me levanto, apenas sinto um forte impacto no meu lado direito, vejo um carro vermelho e algumas pessoas com a visão embaçada, então tudo fica preto.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

“E se” vs “não posso tê-lo”

E novamente aqui estou eu, tentando pôr em palavras tudo o que eu penso, o que eu sinto, mesmo sabendo que isso é impossível. Eu já escondi tanto o que sinto, que não consigo dizer nem para mim mesma quais são os meus próprios sentimentos. É difícil esconder as coisas de si mesma. É difícil não saber qual são os seus próprios pensamentos. Eu sei, já falei sobre isso várias vezes, mas é o que eu penso, é o que eu sei que há na minha mente. 
Sempre que paro para pensar, é como se minha mente estivesse vazia. Mas ela nunca está... Eu sei que não. Eu sinto meus pensamentos pesarem, mas não consigo vê-los. É um peso invisível. Um peso sem matéria. Um peso morto. 
O que mais me preocupa é: e se algum pensamento for importante, essencial para a resolução de algum problema ou de alguma confusão da minha própria mente? Bom, eu não o terei e o problema continuará sendo um problema e a confusão continuará sendo uma confusão. A parte positiva disso tudo é a dúvida. É melhor pensar: “Será que é importante?”, do que pensar: “É importante e eu não o tenho”. Em minha opinião particular, acho que é melhor me torturar com o “E se” do que me torturar com o “posso ter, mas não tenho”. De qualquer forma, aprendi a viver sem ter uma opinião própria, sem ter acesso aos meus pensamentos. Já consigo me virar sem eles, apesar de não ser igualmente bom e útil quanto saber o que se passa em minha mente.



quarta-feira, 19 de março de 2014

Minha felicidade é um insulto...

O lugar onde eu estou deveria ser o pior lugar do mundo para mim. Aqui deveria ser meu pesadelo. Mas mesmo assim, eu esboço sorrisos a todo tempo, rio de piadas e brincadeiras, assim como fazia antes, com meus amigos.
Me sinto mal, me sinto culpada. Sinto como se eu fosse a pior pessoa do mundo. Afinal, como eu posso estar sorrindo se outros estão chorando pela minha ausência? Eu não entendo com posso ser tão fria a tal ponto,mas é incontrolável. Eu já tentei impedir que a felicidade invadisse minha vida, porém, ela entra sem que eu perceba e toma conta de tudo, sem que aja espaço para que a tristeza, a saudade e o sofrimento entrem e a substitua.
Que tipo de pessoa sou eu, que quebra promessas feitas para si mesma?  Eu disse antes de partir, que não seria feliz e que odiaria essa fase da minha vida. Não é o que eu tenho feito. Eu não aguento mais ver minha própria felicidade. É como um insulto a vida que eu tinha. Não era a vida perfeita, mas eu descobri que era uma ótima vida. Pelo menos, melhor que essa que eu tenho agora.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

"Eu constantemente sinto saudade das coisas que perco, mas não quero de volta. Já doeu uma vez."
- Caio Fernando Abreu