quinta-feira, 29 de maio de 2014

As estações da minha vida

Quanto tempo não te via
Minha vida estava fria como no inverno
Minha felicidade estava indo embora como as folhas no outono
Estava desesperado(a)
Até que um dia você apareceu inesperadamente
Então meu sangue ferveu como um sol quente de verão
Meu coração bateu como mil tambores
E minha vida floresceu como os campos na primavera
De tão nervoso(a) que estava, não consegui falar com você
Mas me arrependo profundamente
de cada momento em que fiquei em silêncio na sua presença.

O orgulho fala mais alto

Vestiu-se com um shorts jeans rasgado e uma regata preta, calçou seu all star preto surrado, fez um coque frouxo em seus cabelos castanhos claros, jogou o celular e as chaves dentro de uma bolsa qualquer e saiu. O dia estava calmo: ruas vazias, sem aquela multidão costumeira, nada de carros, nem motoristas estressados por causa do trânsito. Apenas ciclistas e alguns poucos pedestres. O sol brilhava na imensidão azul. Seria um bom dia para fazer uma visita, ainda que breve, a casa de praia de seus pais. Mas, infelizmente, não tinha dinheiro para fazer tal viagem, pois gastara todo o seu salário fazendo compras. "Eu precisava de roupas novas.", justificava-se. A verdade é que Débora Ferraz é a garota de 22 anos mais irresponsável do mundo, economicamente falando. Porém, ainda que seus pais, amigos e parentes lhe dissessem e repetissem isso, ela insistiu em ir morar sozinha.
...
Ele procurava desesperadamente as chaves do carro. Como pôde esquecer onde guardara as chaves? Isso o fez sentir falta da época em que morava com a mãe. Ele tinha que sair de casa naquele exato momento, pois estava atrasado para o primeiro dia de faculdade. Depois de muito procurar, decidiu ir a pé mesmo, afinal, não era tão longe assim. Mas, mesmo não sendo tão distante, ele teria que correr, e muito. Pegou a mochila e saiu correndo em direção ao elevador. Apertou o botão uma, duas, três, milhares de vezes e nada de o elevador aparecer.
- Vou pela escada mesmo - disse para si mesmo, correndo para a escada em seguida.
Por sorte morava no terceiro andar, logo, não demorou muito a chegar no térreo, embora, ainda assim, estivesse ofegante.
Sam Mendez não era fã de atividade físicas, mas sabia que precisava sair do sedentarismo, pois ir a pé para os lugares estava virando rotina.
Pegou o caminho do parque, o qual costuma ficar vazio nas manhãs de quarta-feira, assim, não precisaria prestar tanta atenção para não esbarrar nas pessoas no seu caminho.
...
Embora parecesse, Débora não era essa garota alegre que todos pensavam. Lá no seu íntimo, ela lamentava ter perdido aquilo, ou melhor, aquele que era tão importante para ela. Ah, como ele fazia falta no seu dia-a-dia. Mesmo que não se vissem todos os dias, se falavam em quase todos. E na época em que ainda tinham contato um com o outro, ficar sem falar com ele era como não poder respirar. E então ele se foi. Não se sabe para onde, não se sabe porquê. Ele simplesmente desapareceu. Não respondia as mensagens, não atendia nem retornava ligações... Era como se nunca tivesse existido. E, mesmo que isso tivesse acontecido há anos atrás, ainda doía, pois, depois dele, Débora nunca havia se apaixonado por mais ninguém.
...
"De volta ao lar", Sam pensou enquanto passava em disparada por uma árvore. Estar de volta a cidade onde nasceu era realmente muito bom. Lhe despertava lembranças de uma ótima vida. Lhe despertava lembranças dela. Sam parou e se escorou em uma árvore, a mais velha de todo o parque, ofegante. Débora, Déh. Era dela que sentia falta, da sua morena. Lembrava-se bem do dia que saiu da cidade. Ele não queria que tivesse sido daquela forma, mas depois da morte de sua mãe, ele não aguentou, entrou em um caso grave de depressão. Seu pai foi orientado a levá-lo para longe de tudo o que pudesse lembrar sua mãe. E então ele foi levado para a casa de sua tia, onde foi proibido de manter contato até com o próprio pai, o qual achava um tratamento um pouco radical, mas faria tudo para o bem de seu filho.
Sam balançou a cabeça para afastar o pensamento e continuou sua corrida, pois agora já estava muito, muito atrasado. Somente com sorte entraria na faculdade.
...
A praça estava vazia, assim como havia previsto. Seu passeio seria tão tranquilo quanto desejava. Mal sabia ela o que o destino havia lhe preparado para hoje. Ela caminhava calmamente pela pista de corrida, certa de que ninguém correria hoje. Provavelmente estariam todos trabalhando ou estudando a essa hora. E sua caminhada continuou até seu celular vibrar. Ela havia recebido uma mensagem. Pegou o celular na bolsa e desbloqueou a tela, mas antes que pudesse ver ao menos quem havia enviado a mensagem, foi surpreendida com um impacto que a derrubou no chão.
Durante a queda, Débora soltou um grito agudo e estranho, seu celular saltou de sua mão e caiu na parte asfaltada do parque, a bateria do celular caiu na grama. Depois de recuperar a consciência e processar tudo o que aconteceu, Débora percebeu que tinha um ser humano em cima dela, a impedindo de levantar.
- Mas o que...? - Ela disse. - Dá pra sair de cima de mim? - Gritou dessa vez.
- Me desculpa. - O menino disse enquanto se levantava, estendendo a mão para Débora logo em seguida.
...
Sam apressou-se em levantar e estender a mão para a menina que permanecia caída no chão. Ela a ignorou e levantou-se sozinha. Sam, por sua vez, recolheu sua mão discretamente.
- Você devia olhar por onde anda. - A menina disse, claramente aborrecida.
- Eu já pedi desculpas.
- Desculpas não irá fazer meu joelho parar de doer. - Ela disse limpando ao redor da ferida que se formou em seu joelho, erguendo a cabeça em seguida.
Sam congelou quando viu aquele par de olhos castanhos, o nariz fino, os lábios delicados. Aquele rostinho de boneca era inconfundível. Seu sangue fervia como mil sóis. Ele queria tê-la em seus braços de novo. Queria sua morena, sua baixinha.
...
Débora não acreditou no que seus olhos viram. Seu coração batia tão forte que parecia que saltaria para fora a qualquer momento. Não poderia ser ele, poderia? Já fazia tantos anos... Não era possível que ele tivesse voltado logo agora. Mas mesmo assim, pensar que poderia ser ele lhe dava um misto de felicidade e animação. Ela tinha vontade de lançar seus braços ao redor de seu pescoço, o abraçar e nunca mais deixa-lo ir. Mas a questão era: se fosse realmente ele, será que ele se lembraria dela? Ela não queria passar por esse constrangimento, por mais que doesse a possibilidade de deixar o amor da sua vida ir embora novamente.
O mesmo se passava na cabeça de Sam: e se ela não se lembrar mais de mim? E se ela lembrar, mas me odiar por ter ido embora sem avisar, por não ter dado notícia? Ele não queria passar por esse desapontamento.
Então, ficaram ambos parados, com os olhos fixos um no outro, pensando se deveriam ou não dizer alguma coisa, ou se deveriam simplesmente voltar a andar como se nada tivesse acontecido. E, por fim, a segunda opção prevaleceu. Sam continuou seu caminho para a faculdade, ainda que sua cabeça estivesse na menina de cabelos castanhos. E Débora seguiu o caminho contrário de Sam. Tomaram caminhos opostos, mas o sentimento era o mesmo: arrependimento. Arrependimento de não ter aproveitado a oportunidade, por ter deixado o orgulho falar mais alto.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Amei-te sem querer te amar
Apaixonei-me sem querer me apaixonar
E agora, preso nesse círculo de água e fogo, sufoco-me
O ar, que agora também me deixa, alimenta o fogo
A água luta para permanecer mais forte
E, no meio desse conflito, ainda sufoco-me
Meus pulmões clamam por ar
Mas este já não existe mais
Fora consumido pelo fogo
E agora, o fogo também está a me consumir
Meu corpo arde
O calor derrete meu cérebro
A última gota de razão me abandona
Agora, completamente queimado, perco minha batalha:
- Meu coração é todo teu.
O coração não erra. Nós é que erramos ao ouvi-lo, ao tentar compreendê-lo, ao tentar acompanhá-lo, ao querer fazer sua a sua vontade, ao obedecê-lo.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Primeiro e último amor

O céu já estava escuro. Algumas estrelas brilhavam aqui e ali, quebrando o preto intenso vindo do alto. O amanhecer estava perto. As ruas por onde passaram, ainda vazias, logo estariam cheias de trabalhadores. Vítor dirigia em alta velocidade, o que deixava Sofia nervosa. Ele estava sumido, não deu notícia nas últimas  semanas e hoje a acordara com uma estranha ligação no meio da madrugada, a chamando para um passeio. Sofia, mesmo que receosa, aceitou. Vestiu seu casaco cinza, prendeu o cabelo de qualquer jeito e foi ao encontro de Vítor, que já a esperava do lado de fora. E agora estavam ali, passando por ruas que ela não conhecia, indo em direção à parte menos habitada da cidade. Embora Sofia depositasse toda sua confiança nele, sua parte consciente gritava em alerta, dizendo-a para que pulasse daquele carro e corresse para longe de Vítor. Mas ela teimava em acreditar que ele nunca seria capaz de fazer mal algum a ela.
Vítor, ao contrário de Sofia, estava calmo, mesmo que sua expressão demonstrasse preocupação e nervosismo. Mesmo sem olhar diretamente para ela, Vítor pôde sentir o medo de Sofia. Ele não queria que ela estivesse assim, pois, por mais estranho que fosse o convite, eles se conheciam há anos, tinham uma longa história juntos. "O mínimo que se espera disso é um pouco de confiança", ele pensava.
Sofia não havia olhado para ele nenhuma vez desde que estraram no carro. Já Vítor, a olhava pelo canto do olho, para ver sua expressão facial, mas tudo o que via era sua cabeleira ruiva. O silêncio reinava dentro do carro e nenhum dos dois atrevia-se a quebrá-lo.
Sofia estava ficando inquieta, pois o local em que estavam era praticamente deserto, habitado apenas por homens desonestos e abandonados. Quanto mais avançavam, menos luz havia pelo caminho, a quantidade de postes de iluminação iam diminuindo, até que chegou o momento em que os faróis do carro eram a única fonte de luz.
Vítor parou o carro, o que provocou em Sofia uma onda de alívio e desespero. Ele colocou o carro em ponto morto, tirou o cinto de segurança e virou-se para Sofia. Ela permanecia com a cabeça encostada no vidro da janela, olhando para o lado de fora.
- Sofia. - Vítor chamou, fazendo-a levantar a cabeça e olhar para ele. - Você está bem? - Perguntou preocupado, observando sua expressão amedrontada.
- Sim. Só estou com um pouco de sono. Só isso.  - Ela respondeu, mas ambos sabiam que era mentira. Ele continuou a observá-la, o que fez Sofia corar e desviar o olhar, o qual antes miravam as duas pérolas verdes que Vítor tinha no lugar dos olhos. - Não vai dizer porque me trouxe aqui? - Ela perguntou olhando para as próprias mãos.
- Ah, sim. Claro. - Ele disse desviando o olhar por alguns poucos segundos, logo voltando a encarar o rosto delicado de Sofia, cobertos por alguns cachos ruivos rebeldes que se desprenderam. - Quero lhe mostrar uma coisa. - Disse finalmente.
- Tudo bem. - Sofia disse sem erguer o olhar.
- Tudo bem mesmo? - Vítor ainda tinha em sua cabeça que ela não tinha confiança nele. E ele não queria obrigá-la a ir em lugar algum. Isso era para ser um passeio agradável. Sofia apenas assentiu e eles saíram do carro.
Andaram em silêncio por alguns minutos. Aquela situação chegava a ser constrangedora de tão estranha. Geralmente, quando estão juntos, silêncio é uma coisa não que existe. Os diversos assuntos surgem de todos os lugares e sempre geram risadas. Mas dessa vez era diferente. Sofia estava com medo demais para conseguir dizer alguma coisa e, mesmo que conseguisse, não queria correr o risco de irritá-lo, pois ele poderia fazer-lhe mal. E Vítor não queria correr o risco de assustá-la ainda mais, pois o medo já estava estampado em seu rosto. Para Sofia, a aparência daquelas ruas só deixavam toda aquela situação mais amedrontadora: casas abandonadas, nenhuma iluminação, uma escuridão sinistra, sem falar nos barulhos estranhos e frequentes.
- Chegamos. - Ele informou.
- Era isso que queria me mostrar: um portão de ferro? - Eles estavam diante de um portão de ferro que tomava conta de quase toda parede e não os deixava ver o que tinha por trás dele. Ele sorriu.
- Paciência gafanhoto. - Sofia revirou os olhos e Vítor riu de sua impaciência, o que a fez relaxar um pouco.
Vítor a afastou gentilmente do grande portão e o abriu.
- Uau! - Exclamou Sofia.
O lugar não era muito grande, nem muito  bonito. Tinha um aspecto abandonado e cheiro de mofo. Tudo o que continha ali estava coberto de poeira e teias de aranha. Mas o que chamou a atenção de Sofia não foi o local em si, mas sim a bela vista que eles tinham dali. Somente naquele momento ela percebeu que eles haviam subido durante todo o caminho. E dali de cima, era possível ver toda cidade.
- Eu venho aqui desde que tinha 8 anos. - Vítor disse a acompanhando até a beirada, de onde teriam uma visão mais ampla da cidade.
- Por que nunca me contou?
- Porque eu precisava de um lugar só meu. Tudo o que eu tenho eu divido com alguém, até mesmo os meus segredos. Eu sentia falta de ter alguma coisa só minha.
- E por que resolveu me mostrar isso agora? - Sofia perguntou desviando seu olhar da cidade, e voltando-o para Vítor, o qual estava com o olhar fixo no horizonte.
- Porque está na hora de eu dividir tudo o que tenho, pois daqui a alguns dias nada mais será meu. - Ele respondeu, sem nunca desviar o olhar da cidade. Esse diálogo, ainda que pequeno, já estava assustando Sofia.
- O que quer dizer com isso? - Ela perguntou, ainda que tivesse medo da resposta. Vítor ficou em silêncio por alguns segundos, então suspirou e finalmente respondeu:
- Eu vou embora, Sofia. - Essas palavras a atingiram como um soco no estômago.
- Embora? Mas para onde? Por quê? Seja onde for eu vou com você. - Disse decidia e desesperada.
- Ah, Sofia! - Ele sussurrou abaixando o olhar. - Você não pode ir comigo. - Completou.
- Mas você vai voltar, não é? - Vítor, ainda de cabeça baixa, soltou um riso fraco e balançou a cabeça em negação.
- Essa é uma viagem sem volta, Sofi. - Ele a chamou pelo apelido pela primeira vez na noite. A garganta de Sofia se fechou. Ele era seu único amigo, seu primeiro amor. Ela tentava segurar as lágrimas, mas elas eram teimosas e acabaram por vencer e rolarem por seu rosto.
- Como você pode me abandonar assim? Depois de tudo... - Ela gritava. Sua voz saiu estranha e embargada.
- Eu não tenho opção, Sofia. - Ele alterou a voz e virou-se para ela. Vendo seu rosto encharcado pelas lágrimas, suavizou sua expressão e suspirou profundamente, buscando acalmar-se. - Sofi... - Sussurrou acariciando seu rosto com a mão direita, enxugando suas lágrimas. Ela fechou os olhos, aproveitando cada momento de seu toque. - Você precisa me ouvir. - Completou no mesmo tom de voz. Era difícil para ele dizer aquilo. Mas difícil do que qualquer coisa que ele já fizera na vida.
Ela era a pessoa mais especial da vida dele. Quando todos viraram as costas para  ele, o vândalo, o sem futuro, aquele que todos achavam que não tinha mais esperança de melhora, ela chegou e o mudou. Ela viu o lado bom no meio de todo aquele mal. E agora tinha que abandoná-la, deixá-la sozinha. Ele devia muito a ela, mas nunca teria a chance de pagar. Ele, já angustiado por não conseguir encontrar as palavras certas, a puxou pela cintura e a beijou. O beijo mais intenso e apaixonado que eles já deram. O melhor de todos, com certeza. E provavelmente, um dos últimos. Vítor separou seus lábios e a abraçou.
- Eu estou morrendo, Sofi. - Sussurrou em seu ouvido. O coração de Sofia parou naquele momento. Ela queria acreditar que tinha escutado errado. Saiu do abraço e observou o rosto de Vítor. O sol nascente refletia na metade do rosto de Vítor, fazendo seus olhos parecerem mais claros do que realmente são.
- Morrendo?
- Eu tenho câncer, Sofi. Estou em estado terminal. - Ele disse sem olhá-la.
- Por que não me disse antes? - Sua voz quase não saía, pois as lágrimas ameaçavam cair novamente.
- Não queria te preocupar, nem te assustar. Queria que nossos últimos dias fossem normais e especiais. Queria esquecer dessa maldição quando estivesse com você. - Agora Vítor que estava quase chorando. - Nessas últimas semanas, eu preferi ficar sozinho para tentar descobrir como te contaria isso. - Ele finalmente cedeu e deixou as lágrimas rolarem. - Se eles estiverem certos, eu só tenho mais essa semana de vida. - Agora ela é quem secava as lágrimas dele.
- Eu sinto muito. - Foram as únicas palavras que ela encontrou para dizer. Ele a abraçou novamente e disse em seu ouvido:
- Você foi meu primeiro amor, Sofia. E também será o último.

Razão e emoção na solidão

Solidão é estar só. É ser o único corpo ocupante de um espaço. Ela pode ser por opção ou involuntária, pode trazer dor e sofrimento ou paz e satisfação.
Quando estar só é uma opção, quem agradece é o coração, pois é nesse momento, no vazio e no silêncio, que libera suas verdadeiras emoções. É  momento em que se pode usar a razão, mesmo estando em conflito com a emoção.
No entanto, quando a solidão é involuntária, quem domina é a emoção: desespero e preocupação. Solidão se torna abandono, então dor e sofrimento dominam minha mente e meu corpo, descartando a razão. Minha mente entra em conflito com o coração. A emoção foge de meu controle e desejo obter a razão, expulsa por ordens do coração.
Mesmo estando diante de uma multidão, posso estar só, seja no mundo físico ou no mundo mental, seja em ações ou em pensamentos. Sempre, mesmo que por um momento, estarei na solidão, presenciando o conflito da mente com o coração.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Nos vemos do outro lado

"Tiago aproxima-se da menina sentada na pracinha do shopping. Parece que vai pregar-lhe um susto, mas imposta a voz e diz com pose de galã:
- A senhorita com ar tão solitário, espera alguém?
Depois do ligeiro susto, ela empina o nariz e diz toda afetada:
- Sim, o meu namorado, um príncipe!"
Tiago abre um sorriso travesso e observa a menina de cima a baixo. Ela vestia um vestidinho vermelho, com um sinto dourado e nos pés, uma sapatilha também vermelha. A menina o olhava curiosa. Tiago, parando o olhar na boca da menina, perguntou:
- Posso acompanhar-lhe em sua espera?
A menina hesita, mas assente, permitindo que se sentasse junto à ela.
- Por que escolheste logo esse banquinho, velho e frágil, para sentar-se, tendo muitos outros ao longo da praça? – A menina perguntou, olhando pela primeira vez nos lindos olhos azuis de Tiago.
- Ora, eu procurava uma companhia de lindos cachos loiros, assim como os seus, e olhos castanhos. – Tiago respondeu. – E devo dizer que não poderia ter encontrado companhia mais bela! – Um sorriso se formou no canto direito de seus lábios, ao ver que a menina corou levemente.
- Agradeço o elogio, cavalheiro, mas eu tenho namorado. – A menina disse sem jeito.
- Tenho meus motivos para acreditar que a senhorita está mentindo.
A menina abriu um sorriso e perguntou:
- O senhor é o que? Médium?
- Se isso for o suficiente para conquistar seu coração. – Tiago respondeu, abrindo novamente o sorriso travesso. – E qual seria o nome da senhorita Cachinhos Dourados?
- Amanda. – A menina respondeu, ainda com o sorriso nos lábios. – E o cavalheiro, como se chama?
- Pedro. – Tiago mentiu.
- Por que sinto que o cavalheiro mente para mim? – Amanda perguntou, certa de que Tiago mentia.
- Acho que não sou o único médium nessa praça. – Tiago disse sorrindo. – Me chamo Tiago.
- Tiago.  – Amando repetiu. – Nunca o vi por aqui. É novo na cidade?
- Na verdade, sim. – Tiago respondeu. Antes que pudesse completar a fala, ouviu os gritos dos policiais:
- Ali está ele! Peguem-no! – O disfarce de Tiago havia ido por água abaixo. Como conseguiram encontra-lo ali? Ele tinha que pensar rápido. Não podia ser preso novamente.
Tiago sacou a faca que sempre carregava consigo e tomou Amanda como refém. A loira, sem entender, ficou paralisada de medo.
- Me desculpe por isso, Amanda. – Tiago cochichou em seu ouvido.
- Parado! – Um dos policiais gritou. Amanda tinha a faca em seu pescoço. Com o mais curto movimento, ela estaria morta.
- Aproximem-se e eu a mato! – Tiago gritou. Amanda chorava descontroladamente. Todos ficaram em silêncio. Então, um disparo foi ouvido. Tiago soltou um grito de dor. Ele havia sido atingido na perna. Caiu de joelhos, sem nunca soltar Amanda. Um dos policiais começou a se aproximar de Tiago.
- Sabe, Amanda. Eu gostei de você. – Tiago disse para Amanda. – Eu até te chamaria para sair, mas eu não posso passar por mentiroso. Um deles está se aproximando, eu tenho que cumprir minha palavra. – Num movimento rápido e preciso Tiago cortou a garganta de Amanda.
O corpo da loira caiu no chão e permaneceu imóvel. Quase que imediatamente, outro disparo se ouviu e Tiago caiu. Ninguém conseguiu ouvir suas últimas palavras, pois foram sussurros:

- Nos vemos do outro lado, Amanda.

Um texto sobre amor

O amor é uma coisa que não se pode colocar em palavras. É algo complexo, além da capacidade humana. É algo poderoso e maravilhoso. O amor pode mudar pessoas, formar família, manter as pessoas unidas, pode fazer reinar a paz. Mas, como tudo na vida, tem o lado negro da história, que é o lado que pode acabar com toda maravilha do mundo. O lado sombrio.
O amor sempre é apresentado como algo apaziguador, unificador, etc, mas na verdade, pode causar guerras, mortes, revoltas, amargura, desespero, rancor, raiva, tristeza, abandono. O amor nos leva a fazer  as maiores loucuras por ele para, no final, chorar e sofrer como uma donzela indefesa. O amor engana, ilude. Nos faz pensar que coisas irreais podem de fato acontecer. Tira nossos pés do chão e nos faz flutuar entre as mentiras. 

sábado, 10 de maio de 2014

Fim, partida, morte, saudade, luto...

Vou te contar uma coisa: vida de leitor não é fácil. Quando lemos, nossa dores são multiplicadas. Tudo o que acontece conosco, tudo o que presenciamos e sentimos, é mais intenso. E como se não bastasse sofrermos mais intensamente, sofremos inúmeras vezes, pois não lemos apenas um livro, um conto, uma história. E em cada história, não encontramos apenas uma morte, uma despedida ou somente um  acontecimento que simplesmente acaba com a nossa vida. São muitos, variando de história para história. O fato é, estamos todos sujeitos à tristeza profunda, mesmo que ela dure apenas alguns minutos.
A despedida é uma das piores coisas que existem. Até hoje nunca encontrei ninguém que dissesse: "Despedidas? Amo! Melhor coisa inventada até hoje.". Fala sério... Quem é que gosta de despedida? Ver aquela pessoa querida partir, aquela que passou tantos momentos com você, aquela que te emocionou, te fez rir, chorar, sofrer, festejar, comemorar em cada página, em cada palavra ao longo da história. Aquele casal perfeitinho sendo desfeito por causa do típico intercâmbio... Malditos intercâmbios. O momento mais deprimente: a despedida no aeroporto. Todo aquelo melodrama, aquele lance meloso de um casal que se ama se separando. Eu não sei vocês, mas eu choro rios de lágrimas.
E quanto a morte? Despedida definitiva. Morte é morte... Não tem volta. A personagem simplesmente se vai e não volta nunca mais. É aquele tipo de despedida que realmente acaba com você. E, na minha opinião, é ainda mais horrível quando você pensa que você conhece o caráter da personagem, você sabe o quão incrível ela é, mesmo que seja uma vilã, o fato é que você gosta da personagem, mas você não pode conhecê-la de verdade, não pode realmente estar com ela, porque ela não existe. E mesmo ela não existindo, quando ela deixa de existir, você sofre.
O fim. Ah, o fim... A única parte que supera a morte de uma personagem. Quando uma personagem morre, a vida dela acaba (sério? não me diga...), mas quando uma história acaba, a vida de todos acaba, inclusive a nossa. Por muitas vezes eu ouvi pessoas falarem: "O livro foi feito para nos entreter, nos tirar da realidade", e eu concordo plenamente. O livro é o nosso mundo alternativo, mesmo que muitas vezes relate a realidade. Sendo ele nosso mundo, quando ele acaba, nosso mundo acaba e sem mundo, não podemos existir, logo nós também acabamos. Nós deixamos de existir, assim como cada personagem.
Talvez aqueles que não são leitores me achem maluca por dizer coisas assim. Talvez até os leitores me achem maluca por dizer essas coisas, mas essa é a minha realidade. Pode ser apenas um drama meu, ou talvez seja porque estou muito sensível e sentimental hoje, mas é o que se passa em minha mente, é o que eu sinto quado leio.

Lágrimas

Lágrimas dispensam apresentação
E não necessitam de explicações
Elas por si só falam
Mesmo sem palavras
Sentimento a elas não faltam
Elas transmitem a dor da alma
Liberando às vezes a calma
Elas rolam nos rostos
Trazendo uma mensagem
Mensagem muitas vezes não ditas
Por razões de alma aflita

Se não disser agora, nunca direi...

Calças, shorts, blusas, camisetas, tênis... Joguei tudo dentro da mala e a fechei num movimento rápido e brusco. Essa mudança veio em péssima hora. As coisas estavam indo tão bem. Quero dizer, não todas as coisas, mas a maioria delas. O fato é: eu estava bem aqui. Então, meus pais inventam essa mudança sem motivo. Ou talvez até tenha algum motivo, mas realmente não me interessa. Ergo a mala e a lanço para cima da cama, ao lado das outras duas, as quais estão com os meus livros, vídeo game, computador e tudo mais.
Há alguns dias atrás eu até pensava em recomeçar tudo do zero (a verdade é que o fato de algumas coisas estarem bem, não impede que muitas outras estejam ruins), mas esse recomeço eu faria em minha mente, no meu caráter, no meu modo de viver. Eu queria me descobrir de novo, assim como eu já fiz várias vezes, assim como todo pré-adolescente faz.
- Filha, já está pronta? – Ouvi minha mãe gritar.
- Já. – Gritei em resposta.
Me joguei no meu pufe azul e observei meu quarto. A maior parte das coisas já está empacotada. Agora resta apenas meu guarda-roupa, minha cama, meu pufe e várias caixas esperando para serem despachadas. Fechei os olhos e inspirei profundamente soltando o ar pela boca logo em seguida. Abandono, esse é o cheiro que sinto.
Não quero dar adeus a isso tudo. Moro nessa casa desde que nasci e agora, já com 17 anos, tenho que me mudar. Se eu fosse deixar poucos coisas para trás... Mas não. Amigos, família, casa, escola, uma pessoa mais que especial... Toda a minha vida. Ainda de olhos fechados, joguei minha cabeça para trás, apoiando-a no pufe. Senti um lágrima solitária escorrer pelo lado esquerdo do meu rosto, mas logo a enxuguei. Não posso ficar assim. Tem que ter um lado bom nisso tudo, certo? Nada pode ser cem por cento ruim.
Ouvi a porta do meu quarto sendo aberto e me levantei num salto. Me virei para porta e me deparei minha mãe, a qual está apenas com a cabeça para dentro do quarto.
- Querida, saímos daqui a 2 horas. Quer ir a algum lugar antes? – “É claro que eu quero!”, pensei. Tem uma coisa que eu preciso fazer antes de ir, pois, se eu não o fizer agora, eu nunca farei.
- Na verdade, quero sim, mãe.
- Quer que te leve?
- Não, eu posso ir a pé. Obrigada.
- Tudo bem, então. Não demore a voltar. – Esbocei um sorriso em resposta e ela saiu do quarto.
Depois de tomar um banho rápido, penteei meu cabelos loiros e os deixei soltos, contornei meus olhos cor-de-mel com lápis preto e delineador, vesti uma calça jeans, uma blusa preta apertada e um colete jeans e calcei meu all star preto. Peguei meu celular e saí do quarto. Desci as escadas correndo e saí de casa sem avisar a ninguém. Minha mãe já sabe da minha saída, ninguém mais precisa saber.
A casa dele é aqui perto, apenas duas quadras de distância. Não sei de onde tirei essa coragem, só sei que, se eu nuca mais vou vê-lo, tenho que fazer isso... por mim. Hoje o tempo está nublado. De manhã cedo choveu, por isso as ruas estão molhadas. O cheiro de terre úmida vindo dos pequenos jardins na frente das casas invade minhas narinas. O céu cinza dá um aspecto ainda mais deprimente para esse dia que não poderia estar pior. Apesar da chuva, o dia está abafado. Não se tem sinal do frio. Ando a passos lentos, mesmo sabendo que não tenho muito tempo. Mas quero aproveitar essa última oportunidade que eu tenho de andar por essas ruas.
Não demoro a chegar em sua casa. Encaro o grande portão de ferro que me separa da porta de entrada da casa. Agora que estou aqui, não tenho certeza se quero fazer isso. Quero dizer, isso é loucura, dizer o que sente para alguém. Os “e se” invadem minha mente: E se ele não quiser mais falar comigo? E se ele simplesmente me rejeitar? E se ele espalhar para todo mundo e eu virar motivo de piada? E se... E se... E se... Mas, pensando bem, eu não estarei aqui para ver nada disso. Empurro o portão com a mão direita, ainda relutante. Por mais que minha mente diga “Vá!”, o meu corpo grita “Volte!”. Mas eu já sei o que eu quero fazer. E eu vou fazer! Ando a passos ainda mais lentos até a porta. Paro à um passo de distância da porta e respiro fundo. São só algumas palavras. Que mal elas farão? Ergo minha mão com os punhos serrados para bater na porta, mas me lembro do que ele me disse um vez: “Você é de casa. Não precisa bater. [...] A chave fica no vaso da maior planta. Quando quiser, é só entrar.” Fui até o vaso de uma planta com grandes e altas folhas verdes. Ali pude encontrar a chave que eu só usei uma vez. A envolvi com meus dedos. Você pode fazer isso. São só palavras. São só palavras. Abri a porta e entrei. A sala está vazia e silenciosa. Não parece que tem alguém em casa. Lembro-me que ele me disse que seus pais estariam em viagem de negócios ele ficaria responsável pela casa. Olhei na cozinha. Ninguém. Me direcionei até a porta da frente. Quando pus minha mão na maçaneta, ouvi um barulho vindo lá de cima. Pode ser ele. “Ou um ladrão”. Cala-te consciência!
Subi as escadas contando cada passo.
- Pedro? – Chamei. – Pedro, é você? – Já no alto da escada, vi a porta do quarto dele se abrir.
- Amanda? – Pedro disse parecendo surpreso ao me ver ali. Eu sorri.
- Oi. – Foi tudo o que consegui dizer. Ele está vestindo uma bermuda azul, descalço, sem camisa e com seus cabelos bagunçados.
- Pensei que já tivesse ido. – Saiu do quarto e fechou a porta atrás de si.
- Não, eu vou daqui a pouco. – Respondi me aproximando dele.
- Posso te ajudar em alguma coisa? – Pedro parece estar nervoso.
- Hum... Eu queria falar com você. Tem alguns minutos?
- Claro.
- Bom, eu... Bem... Quando a gente... Sabe... – Diga, Amanda. São apenas palavras!
- Está tudo bem, Amanda?
- Para falar a verdade não muito... Eu só não consigo...
- Organizar os pensamentos em frases? – Sugeriu.
- Isso. – Afirmei sorrindo. Ele sempre faz isso, adivinha meus pensamentos. Afinal, ninguém me conhece como ele.
- Tudo bem. – Ele disse mais para si mesmo do que para mim. – Não acha melhor você ir para casa. Quando tiver conseguido se organizar, me liga. Assim podemos conversar com mais calma.
- Não. Eu tenho que fazer isso pessoalmente, Pedro. Se eu não o fizer agora, eu nunca farei e me culparei por isso pelo resto da vida. – Ele suspirou.
- Tudo bem, então. Só não esqueça que você tem um avião para embarcar daqui a pouco.
- Eu sei. – Dei dois passos em sua direção. Estamos agora à um passo de distância. – Pedro, eu... Eu...
- Você...? – Por que você não pode adivinhar mais essa vez?
- Eu não... – Diga, sua estúpida! Eu não vou conseguir dizer. Eu sei que não... Mas não posso deixar que esse tempo que gastei aqui seja perdido. Não ajo mais segundo o meu lado racional, mas por puro impulso. Dou o passo que me separava de Pedro, ponho minhas mãos em sua nuca e o puxo para um beijo. Ele parece surpreso no início, lógico! Mas logo envolve minha cintura e me puxa para si, acabando com o espaço entre nós.
- Pedro, você... Mas o que? – Ouço uma voz feminina vinda de trás de Pedro. Ele me solta bruscamente, me empurrando para longe.
- Melissa, eu posso explicar. – Ele diz para a morena que agora tem nome. Ela está descalça, assim como Pedro, seus cabelos estão amarrados num coque malfeito no alto da cabeça e veste uma blusa masculina que cobre parte de suas coxas, a qual eu deduzo que seja do Pedro.
- Não precisa explicar. Eu já entendi. – Melissa diz e entra no quarto, batendo a porta com força.
- Olha o problema que você me arrumou, garota. – Pedro diz voltando-se para mim, indo em direção a porta em seguida. Meus olhos começam a marejar. Virei-me e corri para fora. É muita informação para processar.

Olho para o céu. Um trovoada, duas trovoadas... Vai chover. Era só o que faltava. Corro, corro e corro. Passo pelo minha casa, mas continuo correndo. Ouço alguém gritar meu nome, mas eu não dou atenção. Continuo correndo. Carros buzinam, desvio de ciclistas e motoqueiros que me xingam, mas eu continuo correndo. Até que tropeço e caio. Quando me levanto, apenas sinto um forte impacto no meu lado direito, vejo um carro vermelho e algumas pessoas com a visão embaçada, então tudo fica preto.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

“E se” vs “não posso tê-lo”

E novamente aqui estou eu, tentando pôr em palavras tudo o que eu penso, o que eu sinto, mesmo sabendo que isso é impossível. Eu já escondi tanto o que sinto, que não consigo dizer nem para mim mesma quais são os meus próprios sentimentos. É difícil esconder as coisas de si mesma. É difícil não saber qual são os seus próprios pensamentos. Eu sei, já falei sobre isso várias vezes, mas é o que eu penso, é o que eu sei que há na minha mente. 
Sempre que paro para pensar, é como se minha mente estivesse vazia. Mas ela nunca está... Eu sei que não. Eu sinto meus pensamentos pesarem, mas não consigo vê-los. É um peso invisível. Um peso sem matéria. Um peso morto. 
O que mais me preocupa é: e se algum pensamento for importante, essencial para a resolução de algum problema ou de alguma confusão da minha própria mente? Bom, eu não o terei e o problema continuará sendo um problema e a confusão continuará sendo uma confusão. A parte positiva disso tudo é a dúvida. É melhor pensar: “Será que é importante?”, do que pensar: “É importante e eu não o tenho”. Em minha opinião particular, acho que é melhor me torturar com o “E se” do que me torturar com o “posso ter, mas não tenho”. De qualquer forma, aprendi a viver sem ter uma opinião própria, sem ter acesso aos meus pensamentos. Já consigo me virar sem eles, apesar de não ser igualmente bom e útil quanto saber o que se passa em minha mente.