quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Não se incomode

Não se incomode quando eu disser que já sofri. Pois sofri por tempo demais. Mais tempo do que a sua capacidade de se incomodar. Portanto, não se incomode. E não se importe quando lhe disser as coisas que eu fiz quando sofri. Foram coisas horríveis. Mais terríveis do que a sua capacidade de se importar. É perda de tempo. Por favor, não me de atenção, não queira ouvir minha história. Por mais que eu queira te contar, ela é maior do que a sua capacidade de compreensão. Não me julgue. Minha própria condenação já basta. Portanto, não perca tempo tentando e querendo entender. Não tente. Não queira. Eu não quero. Se fosse uma opção, eu também não me importaria, ou sequer me incomodaria. Se eu pudesse, essa história nem seria a minha. Minha história teria uma pote de ouro no final do arco-íris. Um belo caminho com uma bela recompensa. Mas não se incomode. Você não entenderia. Tente não pensar nisso. Eu não penso. Por favor, não se importe. Não quero que se lembre disso quando se lembrar de mim. Quer ter uma lembrança? Lembre do pote de ouro. Se importe com ele. Mas não se incomode.

Que se dane

"Cheguei cedo demais", pensei. Faltava 1 hora para que eles saíssem do colégio e eu já estava no portão esperando. Claro, eu não iria ficar apenas sentada esperando que eles saíssem, e não tinha nenhum outro lugar que eu pudesse ir enquanto isso. Eu só tinha uma opção: o livro dentro da bolsa. Está aí um ponto positivo de ser leitora.
Certo, o livro não diminuiu minha ansiedade, uma vez que eu conferia a hora a cada 2 minutos e achava que o tempo passava cada vez mais lentamente. Que tortura é ter que esperar. Mas me segurei. Não tinha mais nada o que fazer. Tentei ler e não olhar a hora por um tempo.
Quando os últimos minutos de espera chegaram, eu já não conseguia mais ler. Desisti. Não tinha lugar na minha cabeça para outras coisas. Eu só pensava na droga do sinal que não tinha tocado ainda. "O que eles têm contra tocar o sinal 5 minutos antes da hora da saída?" Mas, finalmente, o sinal tocou.
Esperei, esperei, esperei... Muitas pessoas saíram. Um mar-de-gente. Mas não vi rostos conhecidos. Quando a angústia ameaçou tomar conta de mim, eu ouvi um grito. Mas não um grito qualquer. Era um grito familiar. Ela veio correndo e se jogou em cima de mim. Saudade.
Depois dela, outros vieram. Outros me abraçaram. Senti muita falta de todos. Mas um em especial, me fez quase morrer de saudade. Enquanto me abraçavam, todos sussurravam coisas no meu ouvido: o tanto que me amavam, o quanto sentiram a minha falta... Mas quando ele me abraçou, palavras não foram necessárias. Só de estar ali, abraçada com ele, e ele abraçado comigo. Aquilo já era o suficiente. Palavras certamente estragariam aquele momento. Embora tivessem outras dezenas de pessoas em volta, observando o nosso momento, o momento era só nosso. Dane-se as pessoas em volta. Dane-se os olhos atentos. Dane-se essa coisa toda. O que importava era apenas o cheiro dele e seus braços apertando forte a minha cintura. E o resto? Que se dane.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

- O que você fez com ele? o matou? O prendeu? Escondeu? Onde o deixou? Preso? Como? Com correntes ou cordas? Ele consegue respirar? Ele ainda vive? Ainda pode ressuscitar?
- Não sei o que fiz com ele.
- Mas acha que ele pode voltar?
- Penso que não.
- Eu sinto por isso.
- Eu também.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Ele abriu aquele sorriso que faz minhas pernas bambearem e se aproximou mais de mim, dando dois curtos passos. Agora, com os corpos quase colados, pôs uma mecha de cabelo imaginária atrás da minha orelha. Meu coração, já a essa hora, estava do lado de fora do peito, correndo e saltitando por aí. Ele tomou meu queixo entre o pelegar e o indicador e aproximou seu rosto do meu. Pensei, por um breve momento, que ele tinha confundido as coisas, assim como eu. Pensei, imaginei, sonhei que, para ele, tudo era muito mais do que uma mera amizade. Mas obtive uma resposta negativa quando seus lábios tomaram um rumo diferente dos meus, e depositaram um doce beijo em minha testa. Um ato carinhoso. Um ato que, por mais que não seja o que meu coração desejava em seu emocional, eu apreciava em minha razão.